Bem queria ele alumiar com esperanças a perspectiva negra do desterro; mas froixos e frios eram os alívios em que não era parte a convicção nem o sentimento. Teresa não podia sequer iludir-se, porque tinha no peito um despertador que a estava acordando sempre para a hora final, embora o semblante enganasse a condolência dos estranhos.
E, então, era o expandir-se em lástimas nas cartas que escrevia ao seu amigo; invocações a Deus, e sacrílegas apóstrofes ao destino; branduras de paciência e ímpetos de cólera contra o pai; o aferro à vida que lhe foge, e súplicas à morte, que a não livra das torturas da alma e do corpo.
No termo de sete meses o tribunal de segunda instância comutou a pena última em dez anos de degredo para a Índia. Tadeu de Albuquerque acompanhou a Lisboa a apelação, e ofereceu a sua casa a quem mantivesse de pé a forca de Simão Botelho. O pai do condenado, segundo o assustador aviso que seu filho Manuel lhe dera, foi para Lisboa lutar com dinheiro e as poderosas influências que Tadeu de Albuquerque granjeara na Casa da Suplicação e no Desembargo do Paço. Venceu Domingos Botelho, e, instigado mais do seu capricho que do amor paternal, alcançou do príncipe regente a graça de cumprir o condenado a sua sentença na prisão de Vila Real.
Quando intimaram a Simão Botelho a decisão de recurso e a graça do regente, o preso respondeu que não aceitava a graça; que queria a liberdade do degredo; que protestaria perante os poderes judiciários contra um favor que não implorara, e que reputava mais atroz que a morte.
Domingos Botelho, avisado da rejeição do filho, respondeu que fizesse ele a sua vontade; mas que a sua vitória dele sobre os protectores e os corrompidos pelo ouro do fidalgo de Viseu estava plenamente obtida.
Foi aviso ao intendente-geral da polícia, e o nome de Simão Botelho foi inscrito no catálogo dos degredados para a Índia.