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Capítulo 4: Capítulo 4

Página 20

– Nessa conta é que eu o não posso já ter… – respondeu Teresa, sorrindo e pausando, como ele, as sílabas das palavras.

– Pois nem para amigo me quer?!

– O primo não me perdoa a sinceridade que eu tive, e será de hoje em diante meu inimigo.

– Pelo contrário… – tornou ele com mal rebuçada ironia – muito pelo contrário… Eu lhe provarei que sou seu amigo, se alguma vez a vir casada com algum miserável indigno de si.

– Casada!… – interrompeu ela; mas Baltasar cortou-lhe logo a réplica desde modo:

– Casada com algum famoso ébrio ou jogador de pau, valentão de aguadeiros, distinto cavaleiro, que passa os anos lectivos encarcerado nas cadeias de Coimbra…

Claro está que Baltasar Coutinho conhecia o segredo de Teresa. Seu tio, naturalmente, lhe comunicara a criancice da prima, talvez antes de destinar-lha para esposa.

Ouvira Teresa o tom sarcástico daquelas palavras, e erguera-se respondendo com altivez:

– Não tem mais que me diga, primo Baltasar?

– Tenho, prima; queira sentar-se algum tempo mais. Não cuide agora que está falando com o namorado infeliz: convença-se de que fala com o seu mais próximo parente, mais sincero amigo, e mais decidido guarda da sua dignidade e fortuna. Eu sabia que minha prima, contra a expressa vontade de seu pai, uma ou outra vez conversara da janela com o filho do corregedor. Não dei valor ao sucesso, e tomei-o como brincadeira própria da sua idade. Como eu frequentasse o meu último ano em Coimbra, há dois anos, conheci de sobra Simão Botelho. Quando voltei, e me contaram a sua afeição ao académico, pasmei da boa-fé da priminha; depois entendi que a sua mesma inocência devia ser o seu anjo-da-guarda. Agora, como seu amigo, compunjo-me de a ver ainda fascinada pela perversidade do seu vizinho. Não se recorda de ter visto Simão Botelho suciando com a ínfima vilanagem desta terra?! Não viu os seus criados com as cabeças quebradas pelo tal varredor de feiras? Não lhe constou que ele, em Coimbra, abarrotado de vinho, andava pelas ruas armado como um salteador de estradas, proclamando à canalha a guerra aos nobres e aos reis, e à religião de nossos pais? A prima ignoraria isto porventura?

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Capa do livro Amor de Perdição
Páginas: 145
Página atual: 20

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
Capítulo 1 1
Capítulo 2 3
Capítulo 3 10
Capítulo 4 16
Capítulo 5 23
Capítulo 6 29
Capítulo 7 36
Capítulo 8 45
Capítulo 9 55
Capítulo 10 64
Capítulo 11 70
Capítulo 12 81
Capítulo 13 87
Capítulo 14 94
Capítulo 15 101
Capítulo 16 107
Capítulo 17 113
Capítulo 18 119
Capítulo 19 123
Capítulo 20 128
Capítulo 21 133
Capítulo 22 139