Vestiu-se a menina, assustada, e encontrou o velho na antecâmara a recebê-la com muito agrado, perguntando-lhe se ela se erguia de bons humores para dar ao autor de seus dias um resto de velhice feliz. O silêncio de Teresa era interrogador.
– Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltasar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pai. Logo que deres este passo difícil, conhecerás que a tua felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência. Mas repara, minha querida filha, que a violência de um pai é sempre amor. Amor tem sido a minha condescendência e brandura para contigo. Outro teria subjugado a tua desobediência com maus tratos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande património. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse o juízo, e felicito--me de te julgar desassombrada do diabólico prestígio do maldito que acordou o teu inocente coração. Não te consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflexão fizesse mal ao zelo de boa filha com que tu vais abraçar teu pai, e agradecer-lhe a prudência com que ele respeitou o teu génio, velando sempre a hora de te encontrar digna do seu amor.
Teresa não desfitou os olhos do pai; mas tão abstraída estava, que escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das últimas.
– Não me respondes, Teresa?! – tornou Tadeu, tomando-lhe cariciosamente as mãos.
– Que hei-de eu responder-lhe, meu pai? – balbuciou ela.
– Dás-me o que te peço? Enches de contentamento os poucos dias que me restam?
– E será o pai feliz com o meu sacrifício?
– Não digas sacrifício, Teresa… Amanhã a estas horas verás que transfiguração se fez na tua alma. Teu primo é um composto de todas as virtudes; nem a qualidade de ser um gentil moço lhe falta, como se a riqueza, a ciência e as virtudes não bastassem a formar um marido excelente.
– E ele quer-me, depois de eu me ter negado? – disse ela com amargura irónica.
– Se ele está apaixonado, filha!... E tem bastante confiança em si para crer que tu hás-de amá-lo muito!...