O ferrador conhecia o atalho que podia levar os da emboscada ao caminho, e revelou o seu receio a Simão, dizendo-lhe que picasse a toda a brida, que ele e o cunhado lá iriam ter. O académico recebeu com enfado a advertência, admoestando-os a que o não tivessem em tão vil preço. E acintosamente sofreou as rédeas, para não forçar os homens a aligeirar o passo.
– Vá como quiser – disse mestre João – que nós vamos por fora do caminho.
E subiram a uma rampa de olivais, para tornarem a descer encobertos por moitas de giestas, cosendo-se aos torcicolos duma parede paralela com a estrada.
– O atalho vai acolá onde a serra faz aquele cotovelo – disse o ferrador ao cunhado –, hão-de ali passar, ou já passaram. A estrada vai mesmo na quebrada daquele outeirinho. Os homens é dali que vão atirar, encobertos pelos sobreiros. Vamos depressa…
E um pouco descobertos, e outro curvados à sombra das devesas, chegaram a um valado donde ouviram os passos dos dois homens que atravessavam o pontilhão de um córrego.
– Já não vamos a tempo – disse aflito o João da Cruz –, os homens vão atirar-lhe, porque o cavalo trupa cá muito atrás.
E corriam já sem temor de serem vistos, porque os outros tinham dobrado o outeiro, em cujo vale corria a estrada.
– Os homens vão atirar-lhe… – disse o ferrador.
– Gritaremos daqui ao doutor que não vá pra diante.
– Já não é tempo… Ou o matem ou não matem, quando voltarem são nossos.
Tinham já passado o pontilhão, e subiam a ladeira, quando ouviram dois tiros.
– Arriba! – exclamou João da Cruz – que não vão eles meter-se à estrada, se mataram o fidalgo.
Tinham vencido a chã, esbofados e ansiados, com as clavinas aperradas. Os criados de Baltasar, ao invés da conjectura do ferrador, retrocediam pelo mesmo atalho, supondo que os companheiros de Simão iam adiante batendo os pontos azados à emboscada, ou se tinham retardado.
– Eles aí vêm! – disse o arrieiro.
– Nós cá estamos – respondeu o ferrador, sentando-se a coberto de um cômoro. – Senta-te também, que eu não estou para correr atrás deles.