Mariana escondeu o rosto no avental com que enxugava o pranto.
– Seu pai teve algum perigo? – tornou Simão em voz só perceptível dela.
– Não, senhor.
– Está em casa?
– Está, e parece furioso. Queria vir aqui, mas eu não o deixei.
– Perseguiu-o alguém?
– Não, senhor.
– Diga-lhe que não se assuste, e vá depressa sossegá-lo.
– Eu não posso ir sem fazer o que ele me disse. Eu vou sair, e volto daqui a pouco.
– Mande-me comprar uma banca, uma cadeira, e um tinteiro e papel – disse Simão, dando-lhe dinheiro.
– Há-de vir logo tudo; já cá podia estar; mas o pai disse-me que não comprasse nada sem saber se a sua família lhe mandava o necessário.
– Eu não tenho família, Mariana. Tome o dinheiro.
– Não recebo dinheiro, sem licença de meu pai. Para essas compras trouxe eu de mais. E a sua ferida como estará?
– Ainda agora me lembro que tenho uma ferida! – disse Simão, sorrindo – Deve estar boa, que não me dói… Soube alguma coisa de D. Teresa?
– Soube que foi para o Porto. Estavam ali a contar que o pai a mandara meter sem sentidos na liteira, e está muito povo à porta do fidalgo.
– Está bem, Mariana… Não há desgraçado sem amparo. Vá, pense no seu hóspede, seja o seu anjo de misericórdia.
Saltaram de novo as lágrimas dos olhos da moça; e, por entre soluços, estas palavras:
– Tenha paciência. Não há-de morrer ao desamparo. Faça de conta que lhe apareceu hoje uma irmã.
E, dizendo, tirou das amplas algibeiras um embrulho de biscoitos e uma garrafa de licor de canela, que depôs sobre a cadeira.
– Mau almoço é; mas não achei outra coisa pronta – disse ela, e saiu apressada, como para poupar ao infeliz palavras de gratidão.