Paulo Botelho estremeceu na cadeira, quando viu aquela alvejar de uma larva, ajoelhada nos degraus da tribuna.
Deu-se um profundo silêncio de alguns minutos.
Eulália já não podia coordenar as ideias que poucos dias antes clamara no coro. O sorriso da loucura, o gemido sufocante, uma lágrima embebida logo no ardor das faces, e algumas palavras entaladas, e apenas inteligíveis, eram alternativas que a tornaram mais lastimável durante alguns minutos.
A mulher e três filhas de Paulo Botelho, que a viram entrar, correram ao tribunal, e quiseram arrastá-la dali. Era impossível. A estátua parecia chumbada sobre o seu túmulo.
A família do juiz julgou conveniente empregar o insulto como solução. Falavam do justiçado com certa náusea, que elas supuseram ser o bálsamo para a ferida mortal de Eulália. Paulo Botelho, coadjuvando as razões da sua família, cobria de impropérios afrontosos o homem que, pouco depois, havia de perdoar as injúrias com a cabeça no laço da forca.
A exaltação aflitiva de Eulália tinha tocado o ponto culminante da morte, ou da alienação irremediável.
- Inocente! Inocente! - eram os gritos únicos, as derradeiras palavras que os lábios daquela mulher tinham de proferir.