- É a menina! Que milagre é este?
Ela fez-se um pouco vermelha:
- Vim à quinta com a D. Maria da Assunção. Vim dar uma vista de olhos à fazenda.
Ao pé de Amélia uma rapariga acamava couves numa canastra.
- Então esta é que é a quinta da D. Maria?
E Amaro deu um passo para dentro do portão.
Uma rua larga de velhos sobreiros, dando uma sombra doce, estendia-se até à casa que se entrevia no fundo, branquejando ao sol.
- É. A nossa fazenda fica do outro lado, mas entra-se também por aqui. Vá, Joana, avia-te!
A rapariga pôs a canastra à cabeça, deu as boas-tardes, meteu pelo caminho de Sobros, batendo muito os quadris.
- Sim, senhor! sim, senhor! Parece uma boa propriedade, considerava o pároco.
- Venha ver a nossa fazenda! disse Amélia. É uma migalhinha de terra, mais para fazer uma ideia. Vai-se por aqui mesmo... Olhe, vamos ter lá baixo com a D. Maria, quer?
- Valeu. Vamos lá à D. Maria, disse Amaro.
Foram subindo a rua dos sobreiros, calados. O chão estava cheio de folhas secas, e, entre os troncos espaçados, moutas de hortênsias pendiam abatidas, amareladas dos chuveiros; ao fundo a casa baixa, velha, de um andar só, assentava pesadamente. Ao longo da parede grandes abóboras amadureciam ao sol, e no telhado, todo negro do Inverno, esvoaçavam pombos. Por trás o laranjal formava uma massa de folhagens verde- escuras; uma nora chiava monotonamente.
Um rapazinho passou com um balde de lavagem.
- Para onde foi a senhora, João? perguntou Amélia.
- Foi pro olival, disse o rapaz com a sua vozinha arrastada. O olival era longe, no fundo da quinta: havia ainda grandes lamas, não se podia ir lá sem tamancos.