- Ah, senhor pároco, deixe falar, é uma nesga de terra... disse ela.
Mas vendo a criada encostada à parede, sacudida com aflições de tosse:
- Ó mulher, vai tossir lá para dentro! credo!
A moça saiu, pondo o avental sobre a boca.
- Parece doente, coitada, observou o pároco.
Muito achacada, muito!... A pobre de Cristo era sua afilhada, órfã, e estava quase tísica. Tinha-a tomado por piedade...
- E também porque a criada que cá tinha foi para o hospital, a desavergonhada... Meteu-se aí com um soldado!...
O padre Amaro baixou devagar os olhos - e trincando migalhas, perguntou se havia muitas doenças naquele Verão.
- Colerinas, das frutas verdes, rosnou o cônego. Metem-se pelas melancias, depois tarraçadas de água... E suas febritas...
Falaram então das sezões do campo, dos ares de Leiria.
- Que eu agora, dizia o padre Amaro, ando mais forte. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, tenho saúde, tenho!
- Ai, Nosso Senhor lha conserve, que nem sabe o bem que é! exclamou a S. Joaneira. - Contou imediatamente a grande desgraça que tinha em casa, uma irmã meio idiota entrevada havia dez anos! Ia fazer sessenta anos... No Inverno viera-lhe um catarro, e desde então, coitadinha, definhava, definhava...
- Há bocado, ao fim da tarde, teve ela um ataque de tosse! Pensei que se ia embora. Agora descansou mais...
Continuou a falar "daquela tristeza", depois da sua Ameliazinha, das Gansosos, do antigo chantre, da carestia de tudo - sentada, com o gato no colo, rolando com os dois dedos, monotonamente, bolinhas de pão. O cônego, pesado, cerrava as pálpebras; tudo na sala parecia ir gradualmente adormecendo; a luz do candeeiro esmorecia.
- Pois senhores, disse por fim o cônego mexendo-se, isto são horas!
O padre Amaro ergueu-se, e com os olhos baixos deu as graças.