Foi dar-lhe gravemente um aperto de mão, outro ao escrevente, disse baixo, sem os olhar:
- Os meus parabéns... Os meus parabéns...
Voltou as costas, e foi conversar com o cônego que se enterrara na sua poltrona, queixando-se de enfastiamento e reclamando o chá.
Amélia ficara como abstrata, correndo inconscientemente os dedos pelo teclado. Aquele modo do padre Amaro confirmava a sua ideia: queria a todo o custo descartar-se dela, o ingrato! fazia "como se nada tivesse havido", o vilão! Na sua cobardia de padre, com o terror do senhor chantre, do jornal, da Arcada, de tudo - sacudia-a da sua imaginação, do seu coração, da sua vida como se sacode um inseto que tem peçonha!... Então, para o enraivecer, começou a cochichar ternamente com o escrevente; roçava-se lhe pelo ombro, rendida, com risinhos, segredinhos; tentaram, em alarido jovial, tocar uma peça a quatro mãos; depois ela beliscou-o, ele deu um gritinho exagerado. - E a S. Joaneira contemplava-os babosa, enquanto o cônego dormitava já, e o padre Amaro, abandonado a um canto como outrora o escrevente, ia folheando o velho álbum.
Mas um brusco repique da campainha veio sobressaltá-los todos: passos rápidos galgaram a escada, pararam embaixo na saleta; e a Ruça apareceu dizendo "que era o Sr, padre Natário, que não desejava subir, e queria dar uma palavra ao senhor cônego".
- Fracas horas para embaixadas, rosnou o cônego, arrancando-se com custo ao fundo confortável da poltrona.
Amélia fechou logo o piano - e a S. Joaneira pousando a meia foi em bicos de pés escutar ao alto da escada: fora ventava forte, e para os lados da Praça afastava-se o toque de retreta.
Enfim a voz do cônego chamou, de baixo, da porta da saleta:
- Ó Amaro?
- Padre-mestre?