É republicano... Uma fera, meu caro senhor, uma fera!
Amaro, escutando Natário, arrumava atarantadamente, com as mãos trêmulas, papéis no gavetão da escrivaninha.
- E agora?... perguntou.
- Agora? exclamou Natário. Agora é esmagá-lo!
Amaro fechou o gavetão, e, muito nervoso, passando o lenço pelos lábios secos:
- Uma assim, uma assim! E a pobre rapariga, coitada... Casar agora com um homem desses... Um perdido!
Os dois padres, então, olharam-se fixamente. No silêncio, o velho relógio da sacristia punha o seu tiquetaque plangente. Natário tirou da algibeira dos calções a caixa do rapé, e com os olhos ainda fixos em Amaro, a pitada nos dedos, disse sorrindo friamente:
- Desmanchar-lhe o casamentozinho, hem?
- Você acha? perguntou sofregamente Amaro.
- Caro colega, é uma questão de consciência... Para mim era uma questão de dever! Não se pode deixar casar a pobre pequena com um brejeiro, um pedreiro-livre, um ateu...
- Com efeito! com efeito! murmurava Amaro.
- Vem a calhar, hem? fez Natário; e sorveu com gozo a pitada. Mas o sacristão entrou; eram as horas de fechar a igreja; vinha perguntar a suas senhorias se demoravam.
- Um instante, Sr. Domingos.
E, enquanto o sacristão corria os pesados ferrolhos da porta interior do pátio, os dois padres muito chegados falavam baixo.
- Você vai ter com a S. Joaneira, dizia Natário. Não, escute, é melhor que lhe fale o Dias; o Dias é que deve falar à S. Joaneira. Vamos pelo seguro. Você fale à pequena e diga-lhe simplesmente que o ponha fora de casa! - E ao ouvido de Amaro: - Diga à rapariga que ele vive ai de casa e pucarinho com uma desavergonhada!
- Homem! disse Amaro recuando, não sei se isso é verdade!
- Há-de ser. Ele é capaz de tudo. E depois é um meio de levar a pequena.