O Crime do Padre Amaro - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 226 / 478

E àquela hora, enquanto ele ali andava pelas ruas, escorraçado e desgraçado, o padre Amaro, na saleta da Rua da Misericórdia, enterrado na poltrona, senhor da casa e senhor da rapariga, de pema traçada, palrava de alto! Canalha! E não haver leis que o vingassem! E não poder sequer "fazer escândalo", agora que a Voz do Distrito se lhe tomava inacessível!

Vinham-lhe então desejos furiosos de demolir o pároco aos murros, com a força do padre Brito. Mas o que o satisfaria mais seriam artigos tremendos num jornal, que revelassem as intrigas da Rua da Misericórdia, amotinassem a opinião, caíssem sobre o padre como catástrofes, o forçassem a ele, ao cônego e aos outros a desaparecerem corridos da casa da S. Joaneira! Ah! estava certo que a Ameliazinha, livre daqueles galfarros, correria logo aos seus braços, com lágrimas de reconciliação...

Procurava assim à força convencer-se que "a culpa não era dela"; recordava os meses de felicidade antes da chegada do pároco; arranjava explicações naturais para aquelas maneirinhas ternas que ela outrora tinha para o padre Amaro, e que lhe tinham dado ciúmes desesperados: era o desejo, coitada, de ser agradável ao hóspede, ao amigo do senhor cônego, de o reter para vantagem da mãe e da casa! E além disso, como ela andava contente depois de resolvido o casamento! A sua indignação contra o Comunicado, estava certo, não era natural dela - vinha-lhe soprada pelo pároco e belas beatas. E achava uma consolação nesta ideia que não era repelido como namorado, como marido - mas que era uma vítima das intrigas do torpe padre Amaro, que lhe desejava a noiva e que o odiava como liberal! Isto acumulava-lhe na alma um rancor desordenado contra o padre; descendo a rua procurava ansiosamente uma vingança, atirando a imaginação, aqui e além - mas vinha-lhe sempre a mesma ideia, o artigo do jornal, a verrina, a imprensa!





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