O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 244 / 478

Famosa pechincha, ser uma vítima da reação, sem perder o conforto das iscas do tio Osório e os salários inteiros ao sábado! - Mas sobretudo o procedimento dos padres enfurecia-o! Para se vingarem dum liberal, intrigarem-no, tirarem-lhe a noiva! - Oh, que canalha!... E esquecendo os seus sarcasmos ao Casamento e à Família, trovejou de alto contra o clero, que é quem sempre destrói essa instituição social, perfeita, de origem divina!

- Isso precisa uma vingança medonha, menino! É necessário arrasá-los! Uma vingança? João Eduardo desejava-a, vorazmente! Mas qual?

- Qual? Contar tudo no Distrito, num artigo tremendo!

João Eduardo citou-lhe as palavras do doutor Godinho: dali por diante o Distrito estava fechado aos senhores livres-pensadores!

- Cavalgadura! rugiu o tipógrafo.

Mas tinha uma ideia, caramba! Publicar um folheto! Um folheto de vinte páginas, o que se chama no Brasil uma mofina, mas num estilo floreado (ele se encarregava disso), caindo sobre o clero com um desabamento de verdades mortais!

João Eduardo entusiasmou-se. E diante daquela simpatia ativa de Gustavo, vendo nele um irmão, soltou as últimas confidências, as mais dolorosas. O que havia no fundo da intriga era a paixão do padre Amaro pela pequena, e era para se apoderar dela que o escorraçava a ele... O inimigo, o malvado, o carrasco - era o pároco!

O tipógrafo apertou as mãos na cabeça: semelhante caso (que todavia era para ele trivial, nas locais que compunha) sucedido a um amigo seu que estava ali bebendo com ele, a um democrata, parecia-lhe monstruoso, alguma coisa semelhante aos furores de Tibério na velhice, violando, em banhos perfumados, as carnes delicadas de mancebos patrícios.

Não queria acreditar. João Eduardo acumulou as provas.





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