O Crime do Padre Amaro - Cap. 14: Capítulo 14 Pág. 265 / 478

Que eu é que o conhecia! A mim nunca ele me enganou... Sempre lhe achei cara de assassino!

- Estava embriagado, homens com vinho... arriscou timidamente a S. Joaneira.

Foi um clamor. Ai, que o não desculpasse! Parecia até sacrilégio! Era uma fera, era uma fera!

E a exultação foi grande quando Artur Couceiro, aparecendo, deu logo da porta a novidade, a última: o Nunes mandara chamar o João Eduardo e dissera-lhe (palavras textuais): "Eu, bandidos e malfeitores não os quero no meu cartório. Rua!"

A S. Joaneira então comoveu-se:

- Pobre rapaz, fica sem ter que comer... ,

- Que beba! que beba! gritou a Sra. D. Maria da Assunção.

Todos riram. Só Amélia, curvada sobre a sua costura, se fizera muito pálida, aterrada àquela ideia que João Eduardo teria talvez fome...

- Pois olhem, não acho caso para rir! disse a S. Joaneira. É até coisa que me vai tirar o sono.., Pensar que o rapaz há-de querer um bocado de pão e não o há-de ter... Credo! Não, isso não! E o Sr. padre Amaro desculpe...

Mas Amaro também não desejava que o rapaz caísse em miséria! Não era homem de rancor, ele! E se o escrevente viesse à sua porta, com necessidade, duas ou três placas (não era rico, não podia mais), mas três ou quatro placas dava-lhas... Dava-lhas de coração.

Tanta santidade fanatizou as velhas. Que anjo! Olhavam-no, babosas, com as mãos vagamente postas. A sua presença, como a dum S. Vicente de Paula, exalando caridade, dava à sala uma suavidade de capela: e a Sra. D, Maria da Assunção suspirou de gozo devoto.

Mas Natário apareceu, radiante. Deu grandes apertos de mãos em redor, rompeu em triunfo:

- Então já sabem? O patife, o assassino, escorraçado de toda a parte como um cão! O Nunes expulsou-o do cartório. O doutor Godinho disse-me agora que no governo civil não punha ele os pés.





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