O Crime do Padre Amaro - Cap. 15: Capítulo 15 Pág. 278 / 478

Por toda a igreja apinhada corria uma sussurração lenta; aqui e além um catarro expectorava, uma criança choramingava; o ar adensava-se já dos hálitos juntos e de um cheiro de incenso; e do coro, onde as figuras dos músicos se moviam por trás dos braços dos rabecões e das estantes, vinha a cada momento um afinar gemido de rabeca, ou um pio de flautim. As quatro amigas tinham-se apenas acomodado junto ao altar-mor, quando os dois acólitos, um teso como um pinheiro, o outro gordalhufo e enxovalhado, entraram do lado da sacristia, sustentando alto e direito nas mãos os dois castiçais consagrados; atrás o Pimenta vesgo, com uma sobrepeliz muito vasta para ele, lançando os seus sapatões em passadas pomposas, trazia o incensador de prata; depois sucessivamente, durante o rumor do ajoelhar pela nave e do folhear dós livrinhos, apareceram os dois diáconos; e enfim, paramentado de branco, de olhos baixos e mãos postas, com aquele recolhimento humilde que pede o ritual e que exprime a mansidão de Jesus marchando ao Calvário, entrou o padre Amaro - ainda vermelho da questão furiosa que tivera na sacristia, antes de se revestir, por causa da lavagem das alvas.

E o coro imediatamente atacou o Intróito.

* * *

Amélia passou a sua missa embevecida, pasmada para o pároco - que era, como dizia o cônego, "um grande artista para missas cantadas"; todo o cabido, todas as senhoras o reconheciam. Que dignidade, que cavalheirismo nas saudações cerimoniosas aos diáconos! Como se prostrava bem diante do altar, aniquilado e escravizado, sentindo-se cinza, sentindo-se pó diante de Deus, que assiste de perto, cercado da sua corte e da sua família celeste!





Os capítulos deste livro