O Crime do Padre Amaro - Cap. 16: Capítulo 16 Pág. 302 / 478

Mas, tomando-se logo sério, acrescentou:

- Em todo o caso é incontestável que há nessas invenções da ciência moderna muito do demônio. E é por isso que a nossa santa Igreja as abençoa, primeiro com orações e depois com água benta. Hão-de saber que é o costume. Com água benta, para lhes fazer o exorcismo, expulsar o espírito inimigo: e com orações para as resgatar do pecado original que não só existe no homem, mas nas coisas que ele constrói. É por isso que se benzem e se purificam as locomotivas... Para que o demônio não se possa servir delas para seu uso.

D. Maria da Assunção quis imediatamente uma explicação. Como em a maneira usual do Inimigo se servir dos caminhos de ferro?

O padre Amaro esclareceu-a, com bondade. O Inimigo tinha muitas maneiras, mas a habitual era esta: fazia descarrilar um trem de modo que morressem passageiros, e como essas almas não estavam preparadas pela Extrema-Unção, o demônio ali mesmo, zás, apoderava-se delas!

- É de velhaco! rosnou o cônego com uma admiração secreta por aquela manha tão hábil do Inimigo.

Mas D. Maria da Assunção abanou-se langorosamente, com o rosto banhado num sorriso de beatitude:

- Ai, filhas! dizia pausadamente para os lados, a nós é que não nos sucedia isso... Que não nos pilhava desprevenidas!

Era verdade; e todas gozaram um momento aquela certeza deliciosa de estarem preparadas, de poderem lograr a malícia do Tentador!

O padre Amaro então tossiu como para preparar as vias, e apoiando as duas mãos sobre a mesa, num tom de prática:

- É necessário muita vigilância para conservar de longe o demônio. Ainda hoje eu estava a pensar nisso (foi mesmo a minha meditação) a respeito de um caso bem triste que tenho lá ao pé da Sé... É a filhita do sineiro.





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