- Ó Sr. padre Amaro, se se lhe mandasse aquele livro com pinturas de vidas dos santos? Eram pinturas que edificavam. A mim tocavam-me a alma... Não és tu que o tens, Amélia?
- Não, disse ela, sem erguer os olhos da costura.
Amaro então olhou-a. Tinha-a quase esquecido. Estava agora do outro lado da mesa, abainhando um esfregão: a risca muito fina desaparecia na abundância espessa do cabelo, onde a luz do candeeiro ao lado punha um traço lustroso; as pestanas pareciam mais longas, mais negras sobre a pele da face, dum trigueiro cálido, que uma tinta rosada aquecia; o vestido justo, que se franzia numa prega sobre o ombro, elevava-se amplamente sobre a forma dos peitos, que ele via arfar no ritmo da respiração igual... Era aquela a beleza que mais apetecia nela; imaginava-os duma cor de neve, redondos e cheios; tivera-a nos braços, sim, mas vestida, e as suas mãos sôfregas tinham encontrado só a seda fria... Mas na casa do sineiro seriam dele, sem obstáculo, sem vestido, à disposição dos seus lábios. Por Deus! e nada impedia que ao mesmo tempo consolassem a alma da Totó! Não hesitou mais.