O Crime do Padre Amaro - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 336 / 478

Cá na vida eu faço isto, o senhor faz aquilo, os outros fazem o que podem. O padre-mestre que já tem idade agarra-se à velha, eu que sou novo arranjo-me com a pequena. É triste, mas que quer? É a natureza que manda. Somos homens. E como sacerdotes, para honra da classe, o que temos é fazer costas!

O cônego escutava-o, bamboleando a cabeça, na aceitação muda daquelas verdades. Tinha-se deixado cair numa cadeira, a descansar de tanta cólera inútil; e erguendo os olhos para Amaro:

- Mas você, homem, no começo da carreira!

- E você, padre-mestre, no fim da carreira!

Então riram ambos. Imediatamente cada um declarou retirar as palavras ofensivas que tinham dito; e apertaram-se gravemente a mão. Depois conversaram.

O cônego, o que o tinha enfurecido era ser lá com a pequena da casa. Se fosse com outra... até estimava! Mas a Ameliazinha!... Se a pobre mãe viesse a saber, estourava de desgosto.

- Mas a mãe escusa de saber! exclamou Amaro. Isto é entre nós, padre-mestre! Isto é segredo de morte! Nem a mãe sabe de nada, nem eu mesmo digo à pequena o que se passou hoje entre nós. As coisas ficam como estavam, e o mundo continua a rolar... Mas você, padre-mestre, tenha cuidado!... Nem uma palavra à S. Joaneira... Que não haja agora traição!

O cônego, com a mão sobre o peito, deu gravemente a sua palavra de honra de cavalheiro e de sacerdote que aquele segredo ficava para sempre sepultado no seu coração.

Então apertaram ainda uma outra vez afetuosamente a mão.

Mas a torre gemeu as três badaladas. Era a hora de jantar do cônego.

E ao sair, batendo nas costas de Amaro, fazendo luzir um olho de entendedor:

- Pois seu velhaco, tem dedo!

- Que quer você? Que diabo... Começa-se por brincadeira...





Os capítulos deste livro