E compreendia bem que para ela não havia esperança - e que alguma coisa medonha se preparava lá em cima, no Paraíso, que lhe cairia um dia sobre o corpo e sobre a alma, esmagando-a com um desabamento de catástrofe... Que seria?
Cessaria as suas relações com Amaro, se o ousasse: mas receava quase tanto a sua cólera como a de Deus. Que seria dela se tivesse contra si Nossa Senhora e o senhor pároco? Além disso, amava-o. Nos seus braços, todo o terror do Céu, a mesma ideia do Céu desaparecia; refugiada ali, contra o seu peito, não tinha medo das iras divinas; o desejo, o furor da carne, como um vinho muito alcoólico, davam-lhe uma coragem colérica; era com um brutal desafio ao Céu que se enroscava furiosamente ao seu corpo. - Os terrores vinham depois, só no seu quarto. Era esta luta que a empalidecia, lhe punha pregas de envelhecimento ao canto dos lábios secos e ardidos, lhe dava aquele ar murcho de fadiga que irritava o padre Amaro.
- Mas que tens, tu, que parece te espremeram o suco? perguntava- lhe ele quando aos primeiros beijos a sentia toda fria, toda inerte.
- Passei mal a noite... Nervoso.
- Maldito nervoso! rosnava o padre Amaro impaciente.
Depois vinham perguntas singulares que o desesperavam, repetidas agora todos os dias. Se tinha dito a missa com fervor? Se tinha lido o Breviário? Se tinha feito a oração mental?...
- Sabes tu que mais? disse ele furioso. Sebo! E esta! Tu pensas que eu sou ainda seminarista, e que tu és o padre examinador, que verifica se cumpri a Regra? Ora a tolice!
- É que é necessário estar bem com Deus - murmurava ela.
Era com efeito a sua preocupação, agora, que Amaro fosse um bom padre.