O Crime do Padre Amaro - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 372 / 478

Depois, ao fim da semana, foi a jornada da S. Joaneira para a Vieira, de noite, por causa da calma. A Rua da Misericórdia estava atravancada com o carro de bois, que conduzia as louças, os enxergões, o trem de cozinha; e no mesmo char-á-banc que fora à Cortegassa, ia agora a S. Joaneira e a Ruça, que levava também no regaço um açafate com o gato.

O cónego fora na véspera, só Amaro assistia à partida da S. Joaneira. E depois de toda uma azáfama de galgarem cem vezes de baixo a cima as escadas por um cestinho que esquecera ou um embrulho que desaparecia, quando a Ruça enfim fechou a porta à chave, a S. Joaneira, já no estribo do char-á-banc, rompeu a chorar.

- Então, minha senhora, então! disse Amaro.

- Ai, senhor pároco, deixar a pequena!... Mal sabe o que me custa... Parece que a não torno a ver. Apareça pela Ricoça, faça-me essa esmola. Veja se ela está contente...

- Vá descansada, minha senhora.

- Adeus, senhor pároco. Muito obrigada por tudo... Ai, os favores que lhe devo!

- Tolices, minha senhora... Boa jornada, dê notícias! Recados ao padre-mestre. Adeus, minha senhora! adeus, Ruça...

O char-á-banc partiu. E pelo mesmo caminho por onde ele ia rolando, Amaro foi andando devagar até à estrada da Figueira. Eram então nove horas; nascera já o luar duma noite cálida e serena de Agosto. Uma tênue névoa luminosa suavizava a paisagem calada. Aqui e além uma fachada saliente de casa rebrilhava, batida da lua, entre as sombras do arvoredo. Ao pé da Ponte, parou ao olhar melancolicamente o rio que corria sobre a areia com uma sussurração monótona; nos lugares em que as árvores se debruçavam, havia escuridões cerradas; e adiante uma claridade tremia sobre a água, como um tecido de filigrana faiscante.





Os capítulos deste livro