Tomou-lhe a mão, com uma familiaridade de velho e de amigo, calmando-a.
- Que infeliz que sou!.., murmurou ela aos soluços.
Ele então muito paternal:
- Não tem razão para o ser... Sejam quais forem as aflições, as inquietações, uma alma cristã tem sempre a consolação à mão... Não há pecado que Deus não perdoe, nem dor que não calme, lembre-se disso... O que não deve é guardar em si o seu desgosto... É isso que sufoca, que a faz chorar... Se eu lhe posso valer, sossegá-la, é procurar-me...
- Quando? disse ela toda desejosa já de se refugiar na proteção daquele santo homem.
- Quando quiser, disse ele rindo. Eu não tenho horas para consolar... A igreja está sempre aberta, Deus está sempre presente...
Ao outro dia cedo, antes da hora em que a velha se erguia, Amélia foi à residência; e durante duas horas esteve prostrada diante do pequeno confessionário de pinho - que o bom abade por suas mãos pintara de azul-escuro, com extraordinárias cabecinhas de anjos que em lugar de orelhas tinham asas, uma obra de alta arte de que ele falava com uma secreta vaidade.