O Crime do Padre Amaro - Cap. 23: Capítulo 23 Pág. 433 / 478

Tomavam-na agora pela primeira vez entusiasmos de mãe. Desesperava-se em não poder ela mesma costurar o resto do enxoval. Queria que o rapaz - porque havia de ser um rapaz! - se chamasse Carlos. Cismava-o já homem, e oficial de cavalaria. Enternecia-se com a esperança de o ver gatinhar...

- Ai, eu é que o queria criar, se não fosse a vergonha!...

- Vai muito bem para onde vai, dizia Amaro.

Mas o que a torturava, a fazia chorar todos os dias era a ideia de ele ser um enjeitadinho!

Um dia veio ao abade com um plano extraordinário "que Lhe inspirara Nossa Senhora": ela casaria já com João Eduardo, mas o rapaz devia por uma escritura adotar o Carlinhos! Que para que o anjinho não fosse um enjeitado, casava até com um calceteiro da estrada! E apertava as mãos do abade, numa suplicação loquaz. Que convencesse João Eduardo, que desse um papá ao Carlinhos! Queria ajoelhar aos pés dele, do senhor abade, que era o seu pai e o seu protetor.

- Oh, minha senhora, sossegue, sossegue. Esse é também o meu desejo, como lhe disse. E há-de arranjar-se, mas mais tarde, disse o bom velho, atarantado daquela excitação.

Depois, daí a dias, foi outra exaltação: descobrira de repente, uma manhã, que não devia trair Amaro, "porque era o papá do seu Carlinhos". E disse-o ao abade; fez corar os sessenta anos do bom velho, palrando muito convencidamente dos seus deveres de esposa para com o pároco.

O abade, que ignorava as visitas do pároco todas as manhãs, assombrou-se.

- Minha senhora, que está a dizer? que está a dizer? Caia em si... Que vergonha!... Imaginei que lhe tinham passado essas loucuras.

- Mas é o pai do meu filho, senhor abade, disse ela, olhando-o muito séria.

Fatigou então Amaro toda uma semana com uma ternura pueril. Lembrava-lhe cada meia hora que era o "papá do seu Carlinhos".

- Bem sei, filha, bem sei, dizia ele impaciente. Obrigado. Não me gabo da honra...





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