O Crime do Padre Amaro - Cap. 23: Capítulo 23 Pág. 441 / 478

Já escurecia quando entrou em casa. A Escolástica queixou-se da demora que lhe esturrara o jantar. Mas Amaro tomou apenas um copo de vinho e uma garfada de arroz, que engoliu de pé, olhando com terror pela janela a noite que impassivelmente caia.

Entrava no quarto a ver se os candeeiros já estavam acesos, quando o coadjutor apareceu. Vinha falar-lhe sobre o batizado do filho do Guedes, que estava marcado para o dia seguinte às nove horas.

- Trago luz? - disse de dentro a criada sentindo a visita.

- Não! gritou logo Amaro.

Temia que o coadjutor visse a alteração que sentia nas faces, ou que se instalasse para toda a noite.

- Diz que vem na Nação de anteontem um artigo muito bom - observou o coadjutor, grave.

- Ah! fez Amaro.

Passeava no seu trilho costumado, do lavatório para a janela; parava às vezes a rufar nos vidros; já se tinham acendido os candeeiros.

Então o coadjutor, chocado com aquela treva do quarto e aquele passear de fera numa jaula, ergueu-se, e com dignidade:

- Estou a incomodar talvez...

- Não!

E o coadjutor satisfeito sentou-se, com o seu guarda-chuva entre os joelhos.

- Agora anoitece mais cedo, disse.

- Anoitece...

Enfim Amaro desesperado declarou-lhe que tinha uma enxaqueca odiosa, que se ia encostar: e o homem saiu, depois de lhe lembrar ainda o batizado do menino do seu amigo Guedes.

Amaro partiu logo para a Ricoça. Felizmente a noite estava tenebrosa e quente, anunciando chuva. Ia agora tomado duma esperança que lhe fazia bater o coração: era que a criança nascesse mortal E era bem possível. A S. Joaneira em nova tivera duas crianças mortas; a ansiedade em que vivera Amélia devia ter perturbado a gestação. E se ela morresse também?





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