- É o mais que se pode, diziam, é o mais que se pode!
Ao sair, beijando muito a S. Joaneira, felicitaram-na porque adquirira, hospedando o pároco, uma autoridade quase eclesiástica.
- Vocês apareçam à noite, disse ela do alto da escada.
- Pudera!... gritou D. Maria da Assunção, já à porta da rua, traçando o seu mantelete. - Pudera!... Para o vermos à vontade!
Ao meio-dia veio o Libaninho, o beato mais ativo de Leiria; e subindo a correr os degraus, já gritava com a sua voz fina:
- Ó S. Joaneira!
- Sobe, Libaninho, sobe, disse ela, que costurava à janela.
- Então o senhor pároco veio, hem? perguntou o Libaninho, mostrando à porta da sala de jantar o seu rosto gordinho cor de limão, a calva luzidia; e vindo para ela com o passinho miúdo, um gingar de quadris:
- Então que tal, que tal? tem bom feitio?
A S. Joaneira recomeçou a glorificação de Amaro: a sua mocidade, o seu ar piedoso, a brancura dos seus dentes...
- Coitadinho! coitadinho! dizia o Libaninho, babando-se de ternura devota. -. Mas não se podia demorar, ia para a repartição! -. Adeus, filhinha, adeus! - E batia com a sua mão papuda no ombro da S. Joaneira. - Estás cada vez mais gordinha! Olha que rezei ontem a Salve-Rainha que tu me pediste, ingrata!
A criada tinha entrado.
- Adeus, Ruça! Estás magrinha: pega-te com a Senhora Mãe dos Homens. - E avistando Amélia pela porta do quarto entreaberta: - Ai, que estás mesmo uma flor, Melinha! Quem se salvava na tua graça bem eu sei!
E apressado, saracoteando-se, com um pigarrinho agudo, desceu a escada rapidamente, ganindo:
- Adeusinho, adeusinho, pequenas!
- Ó Libaninho, vens à noite?
- Ai, não posso, filha, não posso. - E a sua vozinha era quase chorosa. - Olha que amanhã é Santa Bárbara: tem seis Padre-Nossos de direito!
* * *