O Crime do Padre Amaro - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 464 / 478

O sineiro cerrou a porta, e depois de hesitar um momento:

- Vossa senhoria há-de desculpar, mas... Tinha-me esquecido de todo, com os desgostos que tenho passado. Já há tempo que achei no quarto isto, e pensei que...

E meteu na mão de Amaro um brinco de ouro. Ele reconheceu-o logo: era de Amélia. Muito tempo ela o procurara debalde; soltara-se decerto nalguma manhã de amor, sobre a enxerga do sineiro. Amaro então, sufocado, abraçou o tio Esguelhas.

- Adeus! adeus, Escolástica. Lembrem-se por cá de mim. Dê lembranças ao Matias, tio Esguelhas...

O moço afivelou a maleta ao selim, e Amaro partiu, deixando a Escolástica e o tio Esguelhas a chorar, ambos à porta.

Mas depois de ter passado os açudes, ao pé duma volta da estrada, teve de apear para compor o estribo: e ia montar, quando apareceram dobrando o muro o doutor Godinho, o secretário-geral e o senhor administrador do concelho, muito amigos agora, e que vinham, depois do passeio, recolhendo para a cidade. Pararam logo a falar ao senhor pároco - admirando-se de o ver ali, de maleta na garupa, com ares de jornada...

- É verdade, disse, vou para Lisboa!

O antigo Bibi e o administrador suspiraram invejando-lhe a felicidade. - Mas quando o pároco falou da irmã moribunda, afligiram-se com polidez: e o senhor administrador disse:

- Deve estar muito sentido, compreendo... De mais a mais essa outra desgraça na casa daquelas senhoras suas amigas... A pobre Ameliazinha, morta assim de repente...

O antigo Bibi exclamou:

- O quê? A Ameliazinha, aquela bonita que morava na Rua da Misericórdia? Morreu?

O doutor Godinho também o ignorava, e pareceu consternado.





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