D. Maria da Assunção tinha sido visitada, logo ao chegar, por um rapaz, filho do Sr. Brito de Alcobaça, seu parente. Chamava-se Agostinho, ia frequentar o quinto ano de direito na Universidade. Era um moço delgado, de bigode castanho, pêra, cabelo comprido deitado para trás, e luneta: recitava versos, sabia tocar guitarra, contava anedotas de caloiros, fazia partidas, e era famoso na Vieira, entre os homens, "por saber conversar com senhoras".
- O Agostinho, patife! diziam. É chalaça a esta, chalaça áquela. Lá para sociedade não há outro!
Logo desde os primeiros dias Amélia reparou que os olhos do Sr. Agostinho Brito se fitavam constantemente nela, "p'ra namoro". Amélia corava muito, sentia o seio alargar-se-lhe dentro do vestido; e admirava-o, achava-o muito "dengueiro".
Um dia em casa da Sra. D. Maria da Assunção pediram a Agostinho para recitar.
- Oh, minhas senhoras, isto aqui não é forja de ferreiro! exclamou ele, jovial.
- Ora vá! não se faça rogado, disseram, insistindo.
- Bem, bem, por isso não nos havemos de zangar.
- A Judia, Brito, lembrou o recebedor de Alcobaça.
- Qual Judia! disse ele, há-de ser mas há-de ser a Morena! - E olhou para Amélia. - Foi uma poesia que fiz ontem.
- Valeu, valeu!
- E cá o rapaz acompanha, disse um sargento do 6 de Caçadores, tomando logo a guitarra.
Fez-se um silêncio: o Sr. Agostinho deitou o cabelo para trás, fincou a luneta, apoiou as duas mãos às costas duma cadeira, e fitando Amélia:
- à Morena de Leiria! disse.
Nasceste nos verdes campos
Onde Leiria é famosa,
Tens a frescura da rosa, .
E o teu nome sabe a mel...
- Perdão, exclamou o recebedor, a Sra. D. Juliana não está boa.