- Hoje temos grão-de-bico. Não sei se o senhor pároco gostará, foi para variar...
Mas Amaro gostava de tudo; e mesmo em certas comidas descobria afinidade de gostos com Amélia.
Depois, animando-se, bulia-lhe no cesto da costura. Um dia encontrara uma carta; perguntou-lhe pelo derriço; ela respondeu, picando vivamente o pesponto:
- Ai! a mim ninguém me quer, senhor pároco...
- Não é tanto assim, acudiu ele. Mas suspendeu-se, muito vermelho, afetando tossir.
Amélia às vezes fazia-se muito familiar; um dia mesmo, pediu-lhe para sustentar nas mãos uma meadinha de retrós que ela ia dobar.
- Deixe falar, senhor pároco! exclamou a S. Joaneira. Ora a tolice! Isto, em se lhe dando confiança!...
Mas Amaro prontificou-se, rindo, todo contente: - ele estava ali para o que quisessem, até para dobadoura! Era mandarem, era mandarem!... E as duas mulheres riam, dum riso cálido, enlevadas naquelas maneiras do senhor pároco, "que até tocavam o coração" ! às vezes Amélia pousava a costura e tomava o gato no colo; Amaro chegava-se, corria a mão pela espinha do maltês que se arredondava, fazendo um ronrom de gozo.
- Gostas? dizia ela ao gato, um pouco corada, com os olhos muito ternos.
E a voz de Amaro murmurava, perturbada:
- Bichaninho gato! bichaninho gato!
Depois a S. Joaneira erguia-se para dar o remédio à idiota ou ir palrar à cozinha. Eles ficavam sós; não falavam, mas os seus olhos tinham um longo diálogo mudo, que os ia penetrando da mesma languidez dormente. Então Amélia cantarolava baixo o Adeus ou o Descrente: Amaro acendia o seu cigarro, e escutava, bamboleando a perna.
- É tão bonito isso! dizia.