- lh, como vem frio! disse-lhe Amélia sentindo, ao apertar-lhe a mão, a umidade da névoa.
Sentada à mesa, costurava com um xale-manta pelos ombros: João Eduardo, ao pé, jogava a bisca com a S. Joaneira.
Amaro sentou-se um pouco embaraçado; a presença do escrevente dera-lhe de repente, sem saber por quê, o duro choque duma realidade antipática: e todas as esperanças, que lhe tinham vindo a dançar uma sarabanda na imaginação, encolhiam-se uma a uma, murchavam - vendo ali Amélia ao pé do noivo, curvada sobre uma costura honesta, com o seu escuro vestido afogado, junto do candeeiro de família!
E tudo em redor lhe parecia como mais recatado, as paredes com o seu papel de ramagens verdes, o armário cheio de louça luzidia da Vista Alegre, o simpático e bojudo pote de água, o velho piano mal firme nos seus três pés torneados; o paliteiro tão querido de todos - um Cupido rechonchudo com um guarda-chuva aberto eriçado de palitos, e aquela tranquila bisca jogada com os dichotes clássicos. Tudo tão decente!
Afirmava-se então nas grossas roscas do pescoço da S. Joaneira, como para descobrir nelas as marcas das beijocas do cônego: ah! tu, não há dúvida, és "uma barregã de clérigo". Mas Amélia! com aquelas longas pestanas descidas, o beiço tão fresco!... Ignorava decerto as libertinagens da mãe; ou, experiente, estava bem resolvida a estabelecer-se solidamente na segurança dum amor legal! - E Amaro, da sombra, examinava-a longamente como para se certificar, na placidez do seu rosto, da virgindade do seu passado.
- Cansadinho, senhor pároco, hem? disse a S. Joaneira. E para João Eduardo: - Trunfo, faz favor, seu cabeça no ar!
O escrevente, namorado, distraía-se.