O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 133 / 414

- E por lá, Sra. Justina, quem vai por lá?

Justina fez um aceno de desprezo.

- Um rapazola, um estudante. Fraca coisa!...

- Sempre pinga - disse Juliana com um risinho.

A outra exclamou:

- Olha quem! O pelintra! Nem cheta!

E erguendo o olhar com saudade:

- Ai, como o Gama não há! Quando era do tempo do Gama, isso sim! Nunca ia que me não desse os seus dez tostões, às vezes meia libra. Ai, devo dize-lo, foi ele que me ajudou para o meu vestido de seda! Este agora!... E um fedelho. Eu nem sei como a senhora suporta aquilo! E amarelado, enfezado! Aquilo pode prestar para nada!

Juliana disse então:

- Pois olhe, Sra. Justina, eu agora é que começo a considerar: é onde se está bem, é em casas em que há podres! Encontrei ontem a Agostinha, a que está em casa do comendador, ao Rato... Pois senhor, não se imagina. É tudo o que se pode! Tudo! Anel, vestido de seda, sombrinha, chapéu! E de roupa branca diz que é um enxoval. E tudo o Couceiro, o que está com a ama. E pelas festas sua moeda. Diz que é um homem rasgado. Ela também, verdade seja, tem um trabalhão: fá-lo entrar pelo jardim, e para o fazer sair tem de esperar...

- Ah, lá não! - acudiu a Justina. - Lá é pela escada.

Riram baixinho, saboreando o escândalo.

- Génios... - disse Juliana.

- Ai, lá isso, o nosso tem estômago - afirmou Justina. - Encontram na escada, e tanto se lhe dá...

E muito afetuosamente, arranjando o xale:

- E adeusinho, que se faz tarde, Sra. Juliana. Ela vem hoje cá jantar, a senhora. Estive toda a manhã a engomar uma saia; desde às sete!

- Também eu por cá - disse Juliana. - Elas é o que tem; quando há amante sempre há mais que engomar.

- Deitam mais roupa branca, deitam - observou a Justina.

- As que deitam! - exclamou Juliana, com desprezo.





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