e passeando pela sala excitada:
- E em quanto à religião, histórias! A mim me dizia o Pe, Estêvão, o de luneta, que tem os dentes bonitos, que me dava todas as absolvições, se eu fosse com ele a Carriche!
- Ah, os padres... - murmurou Luísa.
- Os padres quê? São a religião! Nunca vi outra. Deus, esse, minha rica, está longe, não se ocupa do que fazem as mulheres.
Luísa achava horrível aquele modo de pensar. A felicidade, a verdadeira, segundo ela, era ser honesta...
- E a bisca em família! - resmungou Leopoldina, com ódio.
Luísa disse, animada:
- Pois olha que com as tuas paixões, umas atrás das outras...
Leopoldina estacou:
- O quê?
- Não te podem fazer feliz!
- Está claro que não! - exclamou a outra. - Mas... - procurou a palavra; não a quis empregar decerto; disse apenas com um tom seco: - Divertem-me!
Calaram-se. Luísa pediu o café.
Juliana entrou com a bandeja, trouxe luz; daí a pouco foram para a sala.
- Sabes quem me falou ontem de ti? - disse Leopoldina, indo estender-se no divã,
- Quem?
- O Castro.
- Que Castro?
- O de óculos, o banqueiro.
- Ah!
- Muito apaixonado por ti sempre.
Luísa riu.
- Doido, palavra! - afirmou Leopoldina.
A sala estava às escuras, com as janelas abertas; a rua esbatia-se num crepúsculo pardo, um ar lânguido e doce amaciava a noite.
Leopoldina esteve um momento calada; mas o champanhe, a meia obscuridade deram-lhe bem depressa a necessidade de cochichar confidenciazinhas. Estirou-se mais no divã, numa atitude toda abandonada; pôs-se a falar dele. Era ainda o Fernando, o poeta. Adorava-o.
- Se tu soubesses! - murmurava com um ar de êxtase. - É um amor de rapaz!
A sua voz velada tinha inflexões de uma ternura cálida.