O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 148 / 414

e passeando pela sala excitada:

- E em quanto à religião, histórias! A mim me dizia o Pe, Estêvão, o de luneta, que tem os dentes bonitos, que me dava todas as absolvições, se eu fosse com ele a Carriche!

- Ah, os padres... - murmurou Luísa.

- Os padres quê? São a religião! Nunca vi outra. Deus, esse, minha rica, está longe, não se ocupa do que fazem as mulheres.

Luísa achava horrível aquele modo de pensar. A felicidade, a verdadeira, segundo ela, era ser honesta...

- E a bisca em família! - resmungou Leopoldina, com ódio.

Luísa disse, animada:

- Pois olha que com as tuas paixões, umas atrás das outras...

Leopoldina estacou:

- O quê?

- Não te podem fazer feliz!

- Está claro que não! - exclamou a outra. - Mas... - procurou a palavra; não a quis empregar decerto; disse apenas com um tom seco: - Divertem-me!

Calaram-se. Luísa pediu o café.

Juliana entrou com a bandeja, trouxe luz; daí a pouco foram para a sala.

- Sabes quem me falou ontem de ti? - disse Leopoldina, indo estender-se no divã,

- Quem?

- O Castro.

- Que Castro?

- O de óculos, o banqueiro.

- Ah!

- Muito apaixonado por ti sempre.

Luísa riu.

- Doido, palavra! - afirmou Leopoldina.

A sala estava às escuras, com as janelas abertas; a rua esbatia-se num crepúsculo pardo, um ar lânguido e doce amaciava a noite.

Leopoldina esteve um momento calada; mas o champanhe, a meia obscuridade deram-lhe bem depressa a necessidade de cochichar confidenciazinhas. Estirou-se mais no divã, numa atitude toda abandonada; pôs-se a falar dele. Era ainda o Fernando, o poeta. Adorava-o.

- Se tu soubesses! - murmurava com um ar de êxtase. - É um amor de rapaz!

A sua voz velada tinha inflexões de uma ternura cálida.





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