O Primo Basílio - Cap. 5: CAPÍTULO V Pág. 150 / 414

Também ela amava - e um mais belo, mais fascinante. Por que não tinha vindo?

Sentou-se ao piano preguiçosamente; pôs-se a cantar baixo, triste, o fado de Leopoldina:

- E por mais longe que esteia Vejo-o sempre ao pé de mim!...

Mas um sentimento de solidão, de abandono, veio impacientá-la. Que seca, estar ali tão sozinha! Aquela noite cálida, bela e doce, atraía-a, chamava-a para fora, passeios sentimentais, ou para contemplações do céu, num banco de jardim, com as mãos entrelaçadas. Que vida estúpida, a dela! Oh! Aquele Jorge! Que idéia ir para o Alentejo!

As conversas de Leopoldina e a lembrança das suas felicidades voltavam-lhe a cada momento; uma pontinha de champanhe agitava-se no sangue. O relógio do quarto começou lentamente a dar nove horas - e de repente a campainha retiniu.

Teve um sobressalto; não podia ser ainda Juliana! Pôs-se a escutar assustada. Vozes falavam à cancela.

- Minha senhora - veio dizer Joana baixo - é o primo da senhora que se vem despedir...

Abafou um grito, balbuciou:

- Que entre!

Os seus olhos dilatados cravavam-se febrilmente na porta. O reposteiro franziu-se; Basílio entrou, pálido, com um sorriso fixo.

- Tu partes! - exclamou ela surdamente, precipitando-se para ele.

- Não! - E prendeu-a nos braços. - Não! Imaginei que me não recebias a esta hora, e tomei este pretexto.

Apertou-a contra si, beijou-a; ela deixava, toda abandonada; os seus lábios prendiam-se aos dele. Basílio deitou um olhar rápido, em redor, pela sala, e foi-a levando abraçado, murmurando: - Meu amor! Minha filha! - Mesmo tropeçou na pele de tigre, estendida ao pé do divã.

- Adoro-te!

- Que susto que tive! - suspirou Luísa.

- Tiveste?

Ela não respondeu; ia perdendo a percepção nítida das coisas; sentia-se como adormecer; balbuciou: - Jesus! Não! Não! - Os seus olhos cerraram-se.





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