O Primo Basílio - Cap. 7: CAPÍTULO VII Pág. 205 / 414

- É um guia, mas um guia científico. Ilustrarei com um exemplo: Vossa Excelência quer ir a Bragança: sem o meu livro é muito natural (direi, é certo) que volta sem ter gozado das curiosidades locais; com o meu livro percorre os edifícios mais notáveis, recolhe um fundo muito sólido de instrução, e tem ao mesmo tempo o prazer.

Luísa mal o escutava, sorrindo vagamente sob o seu véu branco.

- Está hoje muito agradável! - disse ela.

- Agradabilíssimo! Um dia criador!

- Que bom fresco aqui!

Tinham entrado em São Pedro de Alcântara; um ar doce circulava entre as árvores mais verdes; o chão compacto, sem pó, tinha ainda uma ligeira umidade; e, apesar do sol vivo, o céu azul parecia leve e muito remoto.

O Conselheiro então falou do estio; tinha sido tórrido! Na sua sala de jantar tinha havido quarenta e oito graus à sombra! Quarenta e oito graus! - E com bonomia, querendo logo desculpar a sala daquela exageração canicular: - Mas é que está exposta ao sul! Façamos essa justiça! Está muito exposta ao sul! Hoje, porém, está verdadeiramente restaurador.

Convidou-a mesmo a dar uma volta embaixo no jardim. Luísa hesitava. E o Conselheiro puxando o relógio, fitando-o de longe, declarou logo que ainda não era meio-dia. Estava certo pelo Arsenal; era um relógio inglês. - Muito preferíveis aos suíços! - acrescentou com ar profundo.

Cobardemente, por inércia, enervada pela voz pomposa do Conselheiro, Luísa foi descendo, contrariada, as escadinhas para o jardim. De resto - pensava - tinha tempo, tomaria um trem...

Foram encostar-se às grades. Através dos varões viam, descendo num declive, telhados escuros, intervalos de pátios, cantos de muro com uma ou outra magra verdura de quintal ressequido; depois, no fundo do vale, o Passeio estendia a sua massa de folhagem prolongada e oblonga, onde a espaços branquejavam pedaços da rua areada.





Os capítulos deste livro