.. De repente lembrou-lhe Jorge no Alentejo trabalhando por ela, pensando nela... Escondeu o rosto entre as mãos, detestou-se; os seus olhos umedeceram-se.
Mas na manhã seguinte acordou muito alegre. Sentia, sim, uma vaga vergonha de todas as suas tolices da véspera, e com a sensação indefinida, palpite ou pressentimento, de que não devia ir ao Paraíso. O seu desejo, porém, que a impelia para lá vivamente, forneceu-lhe logo razões; era desapontar Basílio; a não ir hoje não devia voltar, e então romper... Além disso a manhã muito linda atraía a rua; chovera de noite, o calor cedera; havia nos tons da luz e do azul uma frescura lavada e doce.
E às onze e meia descia o Moinho de Vento, quando viu a figura digna do Conselheiro Acácio que subia da Rua da Rosa, devagar, com o guarda-sol fechado, a cabeça alta.
Apenas a avistou apressou-se, curvou-se profundamente:
- Que encontro verdadeiramente feliz!...
- Como está, Conselheiro? Ditosos olhos que o vêem!
- E Vossa Excelência, minha senhora? Vejo-a com excelente aspecto!
Passou-lhe à esquerda com um movimento solene; pôs-se a caminhar ao lado dela.
- Permite-me decerto que a acompanhe na sua excursão?
- Decerto, com o maior prazer. Mas que tem feito? Tenho muito que lhe ralhar...
- Estive em Sintra, minha querida senhora. - E parando: - Não sabia? O Diário de Noticias especificou-o!
- Mas depois de vir de Sintra?
Ele acudiu:
- Ah! Tenho estado ocupadíssimo! Ocupadissimo! Inteiramente absorvido na compilação de certos documentos que me eram indispensáveis para o meu livro... - E depois de uma pausa: - Cujo nome não ignora, creio.
Luísa não se recordava inteiramente. O Conselheiro então expôs o titulo, os fins, alguns nomes de capítulos, a utilidade da obra: era a descrição pitoresca dos principais cidades de Portugal e seus mais famosos estabelecimentos.