O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 267 / 414

..

Mas D. Felicidade não podia sofrer a Juliana: achava-lhe cara de Judas, tinha ar de ser capaz de tudo...

Luísa defendeu-a; era muito serviçal, muito boa engomadeira, muito honesta...

- E anda-te pela rua até às onze da noite!... Credo! Fosse comigo!

- E creio - observou o Conselheiro - que tem uma doença mortal. Não é verdade, Sr. Zuzarte?

- Mortal. Um aneurisma - respondeu Julião, sem levantar os olhos.

- Ainda para mais! - exclamou D. Felicidade. E abaixando a voz: - Tu o que deves fazer é descartar-te dela! Uma criada com uma doença dessas! Que até lhe pode arrebentar a vir dar um copo de água à gente. Cruzes!

O Conselheiro apoiava:

- E às vezes, que embaraços com a autoridade!

Julião fechou o Dante, e disse:

- Eu, tem-me esquecido de avisar o Jorge; mas um dia a criatura cai-lhes redonda no chão. - E sorveu um gole de chá.

Luísa estava aflita. Parecia-lhe que uma nova complicação se formava para a torturar... Pôs-se a dizer que era tão difícil arranjar criadas...

Lá isso era, concordaram.

Falaram de criados, das suas exigências. Estavam cada vez mais atrevidos! E em se lhes dando confiança! E que imoralidade!...

- Muitas vezes é culpa das amas - disse D. Felicidade. - Fazem das criadas confidentes, e isto, em elas apanhando um segredo, tornam-se as donas da casa...

As mãos trémulas de Luísa faziam-lhe tilintar a chávena. Disse, com uma vota afetadamente risonha:

- E o Conselheiro, que tal de criados?

Acácio tossiu:

- Bem. Tenho uma pessoa respeitável, com bom paladar, muito escrupulosa em contas...

- E que não é feia - acudiu Julião. - Assim me pareceu uma vez que fui à Rua do Ferregial...

Uma vermelhidão espalhara-se pela calva do Conselheiro. D. Felicidade fitava-o ansiosamente, com a pupila chamejante.





Os capítulos deste livro