O Primo Basílio - Cap. 9: CAPÍTULO IX Pág. 266 / 414

Inferior, porém, ao nosso Camões! Mas rival do famoso Mílton!

- Que nessas histórias estrangeiras os maridos matam sempre as mulheres! - exclamou ela. E voltando-se para o Conselheiro: - Pois não é verdade?

- Sim, D. Felicidade, repetem-se lá fora com frequência essas tragédias domésticas. O desenfreamento das paixões é maior. Mas entre nós, digamo-lo com orgulho, o lar é muito respeitado. Assim eu, por exemplo, em todas as minhas relações em Lisboa, que são numerosas, graças a Deus, não conheço senão esposas modelos. - E com um sorriso cortesão: - De que é decerto a flor a dona da casa.

D. Felicidade revirou os olhos para Luísa que estava encostada à cadeira dela, e batendo-lhe no braço:

- Isto é uma jóia! - disse com amor.

- E de resto - acudiu o Conselheiro - o nosso Jorge merece-o. Porque, como diz o poeta:

Seu coração é nobre, e a fronte altiva Revela-lhe da alma a pura essência.

Aquela conversação impacientava Luísa. Ia sentar-se ao piano, quando D. Felicidade exclamou: - Dize cá, então não se toma hoje chá nesta casa?

Luísa foi outra vez à cozinha. Disse a Joana que viesse ela mesma com o chá. - E daí a pouco Joana, de avental branco, vermelha, muito atarantada, entrou com o tabuleiro.

- E a Juliana? - perguntou logo D. Felicidade.

- Saiu, coitada - explicou, Luísa -, tem andado doente...

- E anda-te então por fora até estas horas?... Boa! Até desacredita uma casa...

O Conselheiro também achava imprudente:

- Porque enfim as tentações são grandes numa capital, minha senhora!

Julião exclamou, rindo:

- Não, se aquela é tentada, descreio para sempre e totalmente, dos meus contemporâneos.

- Oh, Sr. Zuzarte! - acudiu o Conselheiro, quase severamente - referia-me a outras tentações: entrar, por exemplo, numa loja de bebidas, apetecer-lhe ir ao circo e desleixar os seus deveres.





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