O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 298 / 414

fosse liberal devia ter há muito expulso a coronhadas o Papa, o Sacro Colégio, e a Sociedade de Jesus!

O Conselheiro pediu, com bondade, a benevolência do amigo Zuzarte para o "chefe da Igreja".

- Não - explicou - que eu seja um secretário do Syllabus! Não que eu queira ver os jesuítas entronizados no seio da família! Mas - e a sua voz tornou-se profunda - o respeitável prisioneiro do Vaticano é o vigário de Cristo! Meu Sebastião, sirva o arroz!

Não havia que estranhar aquelas opiniões católicas do Conselheiro, ia observando Julião, porque tinha duas imagens de santos pendentes à cabeceira da cama...

A calva de Acácio fez-se rubra. O Saavedra do Século exclamou com a boca cheia:

- Não o sabia carola, Conselheiro!

Acácio, aflito, suspendeu o trinchador sobre o paio escarlate, e acudiu:

- Eu peço ao meu Saavedra que não tire desse fato ilações erradas. Os meus princípios são bem conhecidos. Não sou ultramontano, nem faço votos pelo restabelecimento da perseguição religiosa. Sou liberal. Creio em Deus. Mas reconheço que a religião é um freio...

- Para os que o precisam... - interrompeu Julião.

Riram; o Alves Coutinho torcia-se. O Conselheiro interdito respondeu, devagar, dispondo na travessa as rodelas do paio:

- Não o precisamos nós decerto, que somos as classes ilustradas. Mas precisa-o a massa do povo, Sr. Zuzarte. Senão veríamos aumentar a estatística dos crimes.

E o Saavedra do Século, erguendo as sobrancelhas, com a fisionomia muito séria:

- Pois olhe que diz uma grandíssima verdade. - Repetiu a máxima, modificando-a: - A religião é um bridão! - Fazia com o gesto o esforço de conter uma mula. E pediu mais arroz. Devorava.

O Conselheiro continuava, explicando:

- Como dizia, sou liberal, mas entendo que algumas litografias ou gravuras, alusivas ao mistério da Paixão, têm o seu lugar num quarto de cama, e inspiram de certo modo sentimentos cristãos.





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