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E nos dias seguintes não se achou melhor. Queixava-se ainda vagamente de peso na cabeça, mal-estar... Uma manhã mesmo ficou de cama. Jorge não saiu, inquieto, querendo já mandar chamar Julião. Mas Luísa insistiu que não era nada, um bocadito de fraqueza talvez... Foi também a opinião de Juliana, em cima na cozinha.
- Que aquela senhora é fraca; ali há coisa do peito - disse com importância.
Joana que estava debruçada sobre o fogão, acudiu logo:
- O que ela é, é uma santa!...
Juliana cravou-lhe nas costas um olhar rancoroso. E com um risinho:
- A Sra. Joana diz isso como se as outras fossem uma peste.
- Que outras?
- Eu, vossemecê, a mais gente...
Joana sempre remexendo nas panelas sem se voltar:
- Olhe, outra não encontra vossemecê, Sra. Juliana! Uma senhora que lhe fazer tudo o que quer, e faz ela mesma o serviço! Noutro dia andava a despejar as águas. E uma santa!
Aquele tom hostil de Joana exasperou-a; mas conteve-se; apesar da sua posição na casa, dependia dela para os caldinhos, os bifes, os petiscos; tinha diante dela a vaga timidez respeitosa das constituições franzinas pelos corpos possantes; pôs-se a dizer com uma voz tortuosa, ambígua:
- Ora! São génios! Gosta de arrumar. Ah, lá isso deve-se dizer, é senhora de muita ordem. Mas gosta, gosta de trabalhar. Às vezes basta-lhe ver um bocadinho de pó, agarra logo no espanador... É génio. Tenho visto outras assim... E punha a cabeça de lado franzindo os beiços.
- O que ela é, é uma santa - repetiu Joana.
- É génio! Está sempre numa labutação. Eu nunca saio sem deixar tudo
brinco. Pois senhores, nunca está satisfeita. Até noutro dia, lá embaixo a
passar a roupa... Eu ia a sair, pois tirei logo o chapéu, e não consenti.