Viram então aparecer uma bela mulher de trinta anos, muito branca, de olhos negros e formas ricas, com um vestido de merino azul, trazendo numa bandeja de prata, onde tremelicavam copinhos, a garrafa de conhaque e o frasco de curaçau. 
- Boa moça! - rosnou com o rosto aceso o Alves Coutinho. 
Julião quase lhe tapou a boca com a mão. E falando-lhe ao ouvido, olhando o Conselheiro, recitou: 
          - Não ouses, temerário, erguer teus olhos            Para a mulher de César! 
E enquanto se bebia o curaçau, Julião pé ante pé dirigiu-se ao escritório, e foi erguer a ponta do xale-manta pardo que tanto o preocupava; eram rumas de livros brochados, atadas com guitas - as obras do Conselheiro intactas! 
Quando Jorge entrou, às onze horas, Luísa já deitada lia, esperando-o. 
Quis saber do jantar do Conselheiro. 
Excelente, contou Jorge, começando a despir-se. Gabou muito os vinhos. Tinha havido speechs... E de repente: 
- É verdade, onde ias tu a Arroios? 
Luísa passou devagar as mãos sobre o rosto para lhe cobrir a alteração. Disse, bocejando ligeiramente: 
- A Arroios? 
- Sim. O Saavedra, um sujeito que estava em casa do Conselheiro, diz que te via passar todos os dias para lá, de trem e a pé. 
- Ah! - fez Luísa depois de tossir - ia ver a Guedes, uma rapariga que andou comigo no colégio, que tinha chegado do Porto. A Silva Guedes! 
- Sílva Guedes!... - disse Jorge refletindo. - Imaginei que estava secretário-geral em Cabo Verde! 
- Não sei. Estiveram aí um mês no verão. Moravam a Arroios. Ela estava doente coitada: eu ia lá às vezes. Mandava-me pedir para ir lá. Põe essa luz fora, está-me a fazer impressão. 
Queixou-se então que toda a tarde estivera esquisita. Sentia-se fraca, e com uma pontinha de febre.