O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 310 / 414

Ela explicava tudo pelo nervoso.

- Que será, Sebastião? - era a pergunta incessante de Jorge. E lembrava-se com terror que a mãe de Luísa morrera de uma doença de coração!

Na rua, pela cozinheira, pela tia Joana, sabia-se que a do Engenheiro ia mal. A tia Joana jurava que era a solitária. Porque enfim, uma pessoa a quem não faltava nada, com um marido que era um anjo, uma boa casa, todos os seus cômodos - e a esmorecer, a esmorecer... Era a bicha! Não podia ser senão a bicha! E todos os dias lembrava a Sebastião que se devia mandar chamar o homem de Vila Nova de Famalicão, que tinha o remédio para a bicha.

O Paula explicava de outro modo:

- Ali anda coisa de cabeça - dizia, franzindo a testa, com o ar profundo.

- Sabe o que ela tem, Sra. Helena? É muita dose de novelas naquela cachimônia. Eu vejo-a de pela manhã até à noite de livro na mão. Põe-se a ler romances e mais romances... Aí têm o resultado: arrasada!

Um dia Luísa de repente, sem razão, desmaiou; e quando voltou a si ficou muito fraca, com o pulso sumido, os olhos cavados. Jorge foi logo buscar Julião; encontrou-o muito agitado, porque o concurso era para o dia seguinte, e sentia cólicas.

Durante todo o caminho não deixou de falar excitadamente da sua tese, do escândalo dos patrocinatos, do barulho que faria se fossem injustos - arrependido agora de não ter metido mais cunhas!

Depois de ter examinado Luísa veio dizer, furioso, a Jorge:

- Não tem nada! E vais-me buscar para isto! Tem anemia, o que todos temos. Que passeie, que se distraia. Distrações e ferro, muito ferro... E água fria, fria pra cima daquela espinha!

Como eram cinco horas convidou-se para jantar, deblaterando toda a tarde contra o país, amaldiçoando a carreira médica, injuriando o seu concorrente e fumando com desespero os charutos de Jorge.





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