Luísa tomava o ferro, mas recusava as distrações; fatigava-a vestir-se, aborrecia-lhe ir ao teatro... Depois, logo que viu Jorge preocupar-se do seu estado, quis
afetar força, alegria, bom humor; e aquele esforço abatia-a, extraordinariamente.
- Vamos para o campo, queres tu? - dizia-lhe Jorge desolado vendo-a esmorecida.
Ela, receando complicações possíveis, não aceitava; não se sentia bastante forte, dizia: onde estava mais confortável que em casa? Depois as despesas, os incômodos.
Uma manhã, que Jorge voltara a casa inesperadamente, encontrou-a em de chambre, com um lenço amarrado na cabeça, varrendo lugubremente. Ficou à porta, atônito:
- Que andas tu a fazer? Andas a varrer? Ela corou muito, atirou logo a vassoura, veio abraçá-lo.
- Não tinha que fazer... Deu-me a mania da limpeza... Estava aborrecida, ~ disso faz-me bem, é um exercício.
Jorge, à noite, contou a Sebastião aquela "tolice de se andar a esfalfar..."
- Uma pessoa que está tão fraca, minha senhora... - observou repreensivamente Sebastião.
- Mas não!" dizia ela, achava-se bem melhor! Até agora andava muito melhor...
Todavia, quase não falou nessa noite, curvada sobre o seu croché, um pouco pálida: e os seus olhos às vezes erguiam-se com uma fadiga triste, sorrindo silenciosamente, de um modo desconsolado.
Pediu a Sebastião que tocasse alguma coisa do Réquiem de Mozart. Achava tão lindo! Gostava que lho cantassem na igreja quando ela morresse...
Jorge zangou-se. Que mania de falar em coisas ridículas!
- Mas então, não é possível que eu morra?...
Pois bem, morre e deixa-nos em paz! - exclamou ele furioso.
- Que bom marido! - dizia ela sorrindo a Sebastião. Deixou cair o Croché no regaço, pediu-lhe então os dezesseis compassos da Africana.