E ia-se olhando ao espelho; queria convencer-se que as belezas da sua pessoa ajudariam as agulhas da bruxa; alisou o cabelo.
- Não me achas mais magra?
- Não.
- Ai estou, filha, estou! - E mostrou o corpete lasso.
Já fazia planos. Iria passar a lua-de-mel a Sintra... Os olhos afogavam-se-lhe num fluido lúbrico.
- Nossa Senhora da Alegria o permita! Tenho-lhe duas velas acesas, de dia e de noite...
Mas de repente a voz aflita de Joana bradou da escada da cozinha:
- Minha senhora! Minha senhora, acuda!
Luísa correu, Jorge também, que ouvira na sala o grito. Juliana estava
estendida no soalho da cozinha, desmaiada.
- Deu-lhe de repente, deu-lhe de repente! - exclamava Joana, muito branca, a tremer. - Tombou pro lado de repente...
Julião tranquilizou-os logo; era uma síncope, simples. Transportaram-na para a cama. Julião fez-lhe esfregar violentamente com uma flanela quente as extremidades - e, mesmo antes que Joana atarantada, em cabelo, corresse à botica por um antiespasmódico, Juliana voltava a si, muito fraca. Quando desceram à, sala, Julião disse, enrolando o cigarro:
- Não vale nada. São muito frequentes estas sincopes, nas doenças de coração. Esta é simples. Mas é o diabo, às vezes têm um caráter apoplético e vem a paralisia; pouco duradoura, sim, porque a efusão de sangue no cérebro é muito pequena, mas enfim, sempre desagradável. - E acendendo o cigarro: - Essa mulher um dia morre-lhes em casa.
Jorge, preocupado, passeava pela sala com as mãos nos bolsos.
- Sempre o tenho dito - acudiu D. Felicidade, baixando a voz, assustada.
- Sempre o tenho dito. E desfazerem-se dela.