O Primo Basílio - Cap. 11: CAPÍTULO XI Pág. 314 / 414

De noite, é cada sonho! Até ando em pecado mortal! E são suores! Mudo de camisa três e quatro vezes!

E ia-se olhando ao espelho; queria convencer-se que as belezas da sua pessoa ajudariam as agulhas da bruxa; alisou o cabelo.

- Não me achas mais magra?

- Não.

- Ai estou, filha, estou! - E mostrou o corpete lasso.

Já fazia planos. Iria passar a lua-de-mel a Sintra... Os olhos afogavam-se-lhe num fluido lúbrico.

- Nossa Senhora da Alegria o permita! Tenho-lhe duas velas acesas, de dia e de noite...

Mas de repente a voz aflita de Joana bradou da escada da cozinha:

- Minha senhora! Minha senhora, acuda!

Luísa correu, Jorge também, que ouvira na sala o grito. Juliana estava

estendida no soalho da cozinha, desmaiada.

- Deu-lhe de repente, deu-lhe de repente! - exclamava Joana, muito branca, a tremer. - Tombou pro lado de repente...

Julião tranquilizou-os logo; era uma síncope, simples. Transportaram-na para a cama. Julião fez-lhe esfregar violentamente com uma flanela quente as extremidades - e, mesmo antes que Joana atarantada, em cabelo, corresse à botica por um antiespasmódico, Juliana voltava a si, muito fraca. Quando desceram à, sala, Julião disse, enrolando o cigarro:

- Não vale nada. São muito frequentes estas sincopes, nas doenças de coração. Esta é simples. Mas é o diabo, às vezes têm um caráter apoplético e vem a paralisia; pouco duradoura, sim, porque a efusão de sangue no cérebro é muito pequena, mas enfim, sempre desagradável. - E acendendo o cigarro: - Essa mulher um dia morre-lhes em casa.

Jorge, preocupado, passeava pela sala com as mãos nos bolsos.

- Sempre o tenho dito - acudiu D. Felicidade, baixando a voz, assustada.

- Sempre o tenho dito. E desfazerem-se dela.





Os capítulos deste livro