- Não podem falar cinco minutos sobre o osso do tornozelo, sem trazerem as "flores da primavera" e "o facho da civilização"!
- O português tem a mania da retórica... - disse Jorge.
Neste momento Juliana entrou na sala, com uma carta.
- Oh! É do Conselheiro!
Ficaram inquietos. Mas Acácio apenas se desculpava de não poder vir, como prometera na véspera, partilhar do excelente chá de D. Luísa. Um trabalho urgente retinha-o à banca do dever. Pedia lembranças aos nossos Sebastião e Julião, e afetuosos respeitos à interessante D. Felicidade.
Uma onda de sangue abrasou o rosto da excelente senhora. Ficou a arfar, toda alterada; mudou duas vezes de cadeira, foi tocar no teclado com um dedo a Pérola de Ofir; e enfim, não se dominando, pediu baixo a Luísa que fossem para o quarto, tinha um segredo... Apenas entraram, fechando a porta da sála:
- Que me dizes à carta dele?
- Os meus parabéns - disse Luísa rindo.
- É o milagre! exclamou D. Felicidade - já é o milagre a fazer-se! - E mais baixo: - Mandei o homem! O que eu te disse, o galego!
Luísa não compreendia.
- O homem a Tui, à mulher de virtude! Levou o meu retrato e o dele. Partiu há uma semana; a mulher naturalmente já começou a enterrar-lhe as agulhas no coração...
- Que agulhas? - perguntou Luísa atônita.
Estavam de pé, junto ao toucador. E D. Felicidade com uma voz misteriosa:
- A mulher faz um coração de cera, cola-o ao retrato do Conselheiro, e durante uma semana à meia-noite crava-lhe uma agulha benta com o preparo que ela tem, e faz as orações...
- E deste o dinheiro ao homem?
- Oito moedas.
- Oh, D. Felicidade!
- Ai! Não me digas! Que já vês! Que mudanças!. Daqui a uns dias, baba-se! Ai! Nossa Senhora da Alegria o permita! Nossa Senhora o permita! Que aquele
homem traz-me doida.