Quando sentiu no corredor os passos de Jorge que entrava, correu, deitou-lhe os braços ao pescoço, e com a cabeça no ombro dele:
- Estou tão contente hoje! E se tu soubesses, é tão boa rapariga a Mariana!
Mas nessa noite a febre voltou. Julião, de manhã achou-a pior. Crescimentos... - disse descontente.
Estava receitando, quando D. Felicidade entrou, muito excitada. Ficou toda surpreendida de ver Luísa doente; e debruçando-se sobre ela, disse-lhe logo ao ouvido:
- Tenho que te contar!
Apenas Jorge e Julião saíram, desabafou, sentada aos pés da cama - com uma voz ora baixa pela gravidade da confidência, ora aguda pelo ímpeto da indignação:
Tinha sido roubada! Indignamente roubada! O homem que mandara a Tui, o grande ladrão, tinha escrito à Gertrudes, à criada, que não estava resolvido a voltar a Lisboa; que a mulher de virtude mudara de povoação; que ele não queria saber mais desse negócio e que até o achava esquisito; que oferecia o seu préstimo em Tui - tudo isto numa boa letra de escrevente público, num português horrível - e do dinheiro nem palavra!
- Que te parece o mariola? Oito moedas! Eu, se não fosse pela vergonha, ia direita à policia... Ai! Os galegos pra mim acabaram! Por isso o Conselheiro não se chegava ao rego! Pudera! A mulher nunca lançou a sorte!... - Porque se já não acreditava na honestidade dos galegos, não perdera a fé no poder das bruxas.
Que ela não era pelas oito moedas! Era pelo ferro! E depois, quem sabe onde estaria agora a mulher! Ai, era de endoidecer!... Que te parece, hem?
Luísa encolheu os ombros, muito abafada na roupa, as faces escarlates, cerravam-lhe os olhos numa sonolência pesada: D. Felicidade aconselhou-lhe vagamente um suadouro, suspirando; e, como Luísa não lhe podia dar consolações, saiu para ir à Encarnação desabafar com a Silveira.