O Primo Basílio - Cap. 14: CAPÍTULO XIV Pág. 372 / 414

Nessa madrugada Luísa piorou. A febre recrudescera. Jorge inquieto, vestiu-se à pressa, às nove horas da manhã, foi buscar Julião. Descia a escada rapidamente, abotoando ainda o paletó, quando o carteiro subia, tossindo o seu catarro.

- Cartas? - perguntou Jorge.

- Uma para a senhora - disse o homem. - Flá de ser para a senhora...

Jorge olhou o envelope; tinha o nome de Luísa, vinha da França.

- De quem diabo é isto? - pensou. Meteu-a no bolso do paletó, e saiu.

Daí a meia hora voltava com Julião, num trem.

Luísa dormitava, amodorrada.

- É preciso cautela... Vamos a ver... - murmurou Julião coçando devagar a cabeça, enquanto do outro lado do leito Jorge o olhava ansiosamente.

Receitou e ficou para almoçar com Jorge. Estava um dia frio e pardo. A Mariana, abafada num casabeque, servia com os dedos vermelhos, inchados de frieiras. E Jorge sentia-se entristecer, como se toda a névoa do ar se lhe fosse lentamente depositando e condensando na alma.

A que se podia atribuir semelhante febre? - dizia, muito desconsolado. Tão extraordinário! Havia seis dias, ora melhor, ora pior...

- Estas febres vêm por tudo - replicou Julião, partindo tranquilamente uma torrada - Às vezes por uma corrente de ar, às vezes por um desgosto. Tenho eu, por exemplo, um caso curioso: um sujeito, um Alves, que esteve para falir, e que viveu, coitado, durante dois meses em torturas. Há duas semanas, por um golpe de fortuna - a velhaca às vezes tem destes caprichos - arranjou todos os seus negócios, viu-se livre. Pois senhor, desde então tem uma febre assim, tortuosa, complexa, com sintomas disparatados... O que é? É que a excitação nervosa abateu, e a felicidade trouxe-lhe uma revolução no sangue. Pode muito bem dar à casca.





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