Ao passar na sala, diante do espelho oval, ficou pasmado do seu rosto manchado, envelhecido. Foi correr uma toalha molhada pela face, alisou o cabelo; e ao entrar na alcova, ao vê-la, com os seus grandes olhos dilatados onde a febre reluzia, teve de se agarrar à barra do leito, porque sentiu, em redor, as paredes oscilarem como lonas do vento.
Mas sorriu-lhe:
- Como estás?
- Mal - murmurou ela debilmente.
Chamou-o para o pé de si com um gesto muito fatigado.
Ele veio, sentou-se sem a olhar.
- Que tens? - disse ela chegando o rosto para ele. - Não te aflijas. - E tomou a mão que ele pousara à beira do leito.
Jorge, com um repelão seco, sacudiu a mão dela, ergueu-se bruscamente com os dentes cerrados; sentia uma cólera brutal; ia-se, com medo de si, de um crime, quando ouviu a voz de Luísa, arrastando-se, numa lamentação:
- Por que, Jorge? Que tens?...
Voltou-se; viu-a meio erguida com os olhos abertos para ele, uma angústia no rosto; e duas lágrimas caíam-lhe, silenciosamente.
Atirou-se de joelhos, agarrou-lhe as mãos, aos soluços.
- Que é isto? - exclamou a voz de Julião à porta da alcova.
Jorge, muito pálido, ergueu-se devagar.
Julião levou-o para a sala, e cruzando terrivelmente os braços diante dele:
- Tu estás doido? Pois tu sabes que ela está num estado daqueles, e vais-te pôr a fazer-lhe cenas de lágrimas?
- Não me pude conter...
- Estoura. Eu estou a cortar-lhe a febre por um lado, e tu a dar-lha por outro? Estás doido!
Estava realmente indignado. Interessava-se por Luísa como doente. Desejava muito curá-la; e sentia uma satisfação em exercer o domínio de pessoa necessária naquela casa, onde as suas visitas tinham tido sempre uma atitude dependente; mesmo agora, ao sair, não se esquecia de oferecer negligentemente um charuto a Jorge.