O Primo Basílio - Cap. 14: CAPÍTULO XIV Pág. 376 / 414

Ao passar na sala, diante do espelho oval, ficou pasmado do seu rosto manchado, envelhecido. Foi correr uma toalha molhada pela face, alisou o cabelo; e ao entrar na alcova, ao vê-la, com os seus grandes olhos dilatados onde a febre reluzia, teve de se agarrar à barra do leito, porque sentiu, em redor, as paredes oscilarem como lonas do vento.

Mas sorriu-lhe:

- Como estás?

- Mal - murmurou ela debilmente.

Chamou-o para o pé de si com um gesto muito fatigado.

Ele veio, sentou-se sem a olhar.

- Que tens? - disse ela chegando o rosto para ele. - Não te aflijas. - E tomou a mão que ele pousara à beira do leito.

Jorge, com um repelão seco, sacudiu a mão dela, ergueu-se bruscamente com os dentes cerrados; sentia uma cólera brutal; ia-se, com medo de si, de um crime, quando ouviu a voz de Luísa, arrastando-se, numa lamentação:

- Por que, Jorge? Que tens?...

Voltou-se; viu-a meio erguida com os olhos abertos para ele, uma angústia no rosto; e duas lágrimas caíam-lhe, silenciosamente.

Atirou-se de joelhos, agarrou-lhe as mãos, aos soluços.

- Que é isto? - exclamou a voz de Julião à porta da alcova.

Jorge, muito pálido, ergueu-se devagar.

Julião levou-o para a sala, e cruzando terrivelmente os braços diante dele:

- Tu estás doido? Pois tu sabes que ela está num estado daqueles, e vais-te pôr a fazer-lhe cenas de lágrimas?

- Não me pude conter...

- Estoura. Eu estou a cortar-lhe a febre por um lado, e tu a dar-lha por outro? Estás doido!

Estava realmente indignado. Interessava-se por Luísa como doente. Desejava muito curá-la; e sentia uma satisfação em exercer o domínio de pessoa necessária naquela casa, onde as suas visitas tinham tido sempre uma atitude dependente; mesmo agora, ao sair, não se esquecia de oferecer negligentemente um charuto a Jorge.





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