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Capítulo 14: CAPÍTULO XIV

Página 379
.. Não sei mais nada.

Jorge esteve um momento a olhar Sebastião, com uma fixidez abstrata.

- Mas que lhe fiz eu, Sebastião? Que lhe fiz eu? Adorava-a! Que lhe fiz eu para isto? Eu, que a adorava, àquela mulher!

Rompeu a chorar.

Sebastião ficara de pé junto à mesa, estúpido, aniquilado.

- Foi talvez uma brincadeira, apenas... - murmurou.

- E o que diz a carta? - gritou Jorge, voltando-se numa cólera, sacudindo o papel. - Este "Paraíso!", "As boas manhãs" lá passadas! E uma infame!...

- Está doente, Jorge - disse apenas Sebastião.

Jorge não respondeu. Passeou calado algum tempo. Sebastião, imóvel, fatigava a vista contra a chama da luz. Jorge então fechou a carta na gaveta, e tomando o castiçal com um tom de lassidão lúgubre e resignado:

- Queres vir tomar chá, Sebastião?

E não tornaram mais a falar na carta.

Nessa noite Jorge dormiu profundamente. Ao outro dia o seu rosto estava impassível, de uma serenidade lívida.

Foi daí por diante o enfermeiro de Luísa.

A doença, depois de uma marcha incerta durante três dias, definiu-se: eram crescimentos; enfraquecia muito, mas Julião estava tranquilo.

Jorge passava os seus dias ao pé dela. D. Felicidade vinha ordinariamente pelas manhãs; sentava-se aos pês da cama, e ficava calada, com uma face envelhecida; aquela esperança na mulher de Tui tão subitamente destruída, abalara-a como um velho edifício a que se tira subitamente um pilar; ia-se tornando ruína; e só se animava quando o Conselheiro aparecia pelas três horas a saber da "nossa formosa enferma". Trazia sempre alguma palavra grave que dizia com um tom profundo, conservando o chapéu na mão, sem querer entrar alcova, por pudor:

- A saúde é um bem que só apreciamos quando nos foge!

Ou:

- A doença serve para aquilatarmos os amigos.

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Capa do livro O Primo Basílio
Páginas: 414
Página atual: 379

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I 1
CAPÍTULO II 24
CAPÍTULO III 45
CAPÍTULO IV 70
CAPÍTULO V 121
CAPÍTULO VI 154
CAPÍTULO VII 191
CAPÍTULO VIII 213
CAPÍTULO IX 251
CAPÍTULO X 273
CAPÍTULO XI 293
CAPÍTULO XII 327
CAPÍTULO XIII 346
CAPÍTULO XIV 366
CAPÍTULO XV 387
CAPÍTULO XVI 400
"O PRIMO BASÍLIO" (CARTA A TEÓFILO BRAGA) 411