.. Mas quem saberia?... JULIANA!
Era ela que sabia! Decerto! E todas as condescendências dela por Juliana, os móveis, o quarto, as roupas, compreendeu tudo! Era a pagar a cumplicidade! Era a sua confidente! Levava as cartas, sabia tudo. E estava na vala, morta, sem poder falar, a maldita!
Sebastião, como costumava, veio à noitinha. Não havia ainda luzes, e, apenas ele entrou, Jorge chamou-o ao escritório, calado, acendeu uma vela, tirou a carta da gaveta.
- Lê isto.
Sebastião ficara assombrado ao ver o rosto de Jorge. Olhava a carta fechada, e tremia. Apenas viu a assinatura, uma palidez de agonia cobriu-lhe o rosto. Parecia-lhe que o soalho tinha uma vibração onde ele se firmava mal. Mas dominou-se leu devagar, pousou a carta sobre a mesa, sem uma palavra.
Jorge disse então:
- Sebastião, isto pra mim é a morte. Sebastião, tu sabes alguma coisa. Tu vinhas aqui tu sabes. Dize-me a verdade!
Sebastião abriu devagar os braços e respondeu:
- Que te hei de eu dizer? Não sei nada!
Jorge agarrou-lhe as mãos, sacudiu-lhas, e procurando o seu olhar ansiosamente:
- Sebastião, pela nossa amizade, pela alma de tua mãe, por tantos anos que temos passado juntos, Sebastião, dize-me a verdade!...
- Não sei nada. Que hei de eu saber?
- Mentes!
Sebastião disse apenas:
- Podem-te ouvir, homem!
Houve um silêncio: Jorge apertava as fontes nas mãos, com passadas pelo escritório, que faziam vibrar o soalho; e de repente pondo-se diante de Sebastião quase suplicante:
- Mas dize-me ao menos o que fazia ela! Saía? Vinha aqui alguém?
Sebastião respondeu devagar, os olhos fixos na luz:
- Vinha o primo às vezes, ao princípio. Quando a D. Felicidade esteve doente, ela ia vê-la... O primo depois partiu.