O Primo Basílio - Cap. 15: CAPÍTULO XV Pág. 396 / 414

Mariana estava sentada aos pés do leito; Jorge disse-lhe que fosse servir os senhores; e apenas ela saiu, deixou-se cair de joelhos, tomou uma das mãos de Luísa, chamou-a baixo; depois mais forte:

- Escuta-me. Ouve, pelo amor de Deus. Não estejas assim, faze por melhorar. Não me deixes neste mundo, não tenho mais ninguém! Perdoa-me. Dize que sim. Faze sinal que sim ao menos. Não me ouve, meu Deus!

E olhava-a ansiosamente. Ela não se movia.

Ergueu então os braços ao ar numa desesperação alucinada.

- Sabes que creio em ti, meu Deus. Salva-a! Salva-a! - E arremessava a sua alma para as alturas: - Ouve, meu Deus! Escuta-me! Sê bom!

Olhava em roda, esperando um movimento, uma voz, um acaso, um milagre! Mas tudo lhe pareceu mais imóvel. A face lívida cavava-se; o lenço que lhe envolvia a cabeça desarranjara-se, via-se o crânio rapado, de uma cor ligeiramente amarelada. Pôs-lhe então a mão na testa, hesitando, com medo; pareceu-lhe que estava fria! Abafou um grito, correu para fora do quarto, e deu com o Dr. Caminha que entrava, tirando pausadamente as luvas.

- Doutor! Está morta! Veja. Não fala, está fria...

- Então! Então! - disse ele. - Nada de barulho, nada de barulho!

Tomou o pulso de Luísa, sentiu-o fugir sob os dedos, como a vibração expirante de uma corda.

Julião veio logo. E concordou com o Dr. Caminha que as ventosas eram inúteis.

- Já as não sente - disse o doutor sacudindo o tabaco dos dedos.

- Se se lhe desse um copo de conhaque?... - lembrou de repente Julião. E vendo o olhar espantado do doutor: - Às vezes estes sintomas de coma não querem dizer que o cérebro esteja desorganizado; podem ser apenas a inação da força nervosa exausta. Se a morte é irremediável não se perde nada; se é apenas uma depressão do sistema nervoso, pode-se salvar.





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