O Primo Basílio - Cap. 1: CAPÍTULO I Pág. 4 / 414

tinha dito, com uma oscilação grave da cabeça, esfregando vagarosamente as mãos:

- Casou no ar! Casou um bocado no ar!

Mas Luísa, a Luisinha, saiu muito boa dona de casa; tinha cuidados muito simpáticos nos seus arranjos; era asseada, alegre como um passarinho, como um passarinha amiga do ninho e das carícias do macho; e aquele serzinho louro e meigo veio dar à sua casa um encanto sério.

- É um anjinho cheio de dignidade! - dizia então Sebastião, o bom Sebastião, com a sua voz profunda de basso.

Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre... E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!

- Ah! - fez Luísa de repente, toda admirada para o jornal, sorrindo.

- Que é?

- É o primo Basílio que chega! - E leu alto, logo:

- "Deve chegar por estes dias a Lisboa, vindo de Bordéus, o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade. Sua Excelência que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstituíra a sua fortuna com um honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo do ano passado. A sua volta à capital é um verdadeiro júbilo para os amigos de Sua Excelência que são numerosos."

- E são! - disse Luísa, muito convencida.

- Estimo, coitado! - fez Jorge, fumando, anediando a barba com a palma da mão. - E vem com fortuna, hem?

- Parece.

Olhou os anúncios, bebeu um gole de chá, levantou-se, foi abrir uma das portadas da janela.

- Oh! Jorge, que calor que lá vai fora, Santo Deus! - Batia as pálpebras sob a radiação da luz crua e branca.

A sala, nas traseiras da casa,





Os capítulos deste livro