Caem os pássaros! - disse ela cerrando a janela. - Olha tu pelo Alentejo, agora!
Veio encostar-se à voltaire de Jorge, passou-lhe lentamente a mão sobre o cabelo preto e anelado. Jorge olhou-a, triste já da separação; os dois primeiros botões do seu roupão estavam desapertados; via-se o começo do peito de uma brancura muito tenra, a rendinha da camisa; muito castamente Jorge abotoou-lhos.
- E os meus coletes brancos? - disse.
- Devem estar prontos.
Para se certificar chamou Juliana.
Houve um ruído domingueiro de saias engomadas. Juliana entrou, arranjando nervosamente o colar e o broche. Devia ter quarenta anos e era muitíssimo magra. As feições, miúdas, espremidas, tinham a amarelidão de tons baços das doenças de coração. Os olhos grandes, encovados, rolavam numa inquietação, numa curiosidade, raiados de sangue, entre pálpebras sempre debruadas de vermelho. Usava uma cuia de retrós imitando tranças, que lhe fazia a cabeça enorme. Tinha um tique nas asas do nariz. E o vestido chato sobre o peito, curto da roda, tufado pela goma das saias - mostrava um pé pequeno, bonito, muito apertado em botinas de duraque com ponteiras de verniz.
Os coletes não estavam prontos, disse com uma voz muito lisboeta; não tivera tempo de os meter em goma.