Rosa de amor, rosa purpúrea e bela,
Quem entre os goivos te esfolhou na campa?
- É do imortal Garrett! - E continuou com uma voz lenta e lúgubre:
- "... Mais um anjo que subiu ao céu! Mais uma flor pendida na tenra haste que o vendaval da morte, em sua inclemente fúria, arremessou maldesabrochada para as trevas do túmulo..."- Olhou Julião para solicitar a sua admiração, e vendo-o curvado a remexer o seu café, prosseguiu com entonações mais funerárias:
- "Detendo-vos, e olhai a terra fria! Ali jaz a casta esposa tão cedo arrancada às carícias do seu talentoso cônjuge. Ali soçobrou, como baixei no escarcéu da costa, a virtuosa senhora, que em sua folgazã natureza era o encanto de quantos tinham a honra de se aproximar do seu lar! Por que soluçais?"
- Um café, ó Antônio! - bradou a voz rouca de um sujeito grosso, de jaquetão, que se sentou ao pé, pondo com ruído a bengala sobre a mesa e deitando o chapéu para o cachaço.
O Conselheiro olhou-o de lado, com rancor. E baixando a voz:
- "... Não soluceis! Que o anjo se não pertence à terra pertence ao céu!..."
- O Sô Guedes esteve já por aí? - perguntou a voz rouca.
O criado disse detrás do balcão, limpando com uma rodinha as travessas de metal:
- Ainda não, senhor D. José!
- "... Ali" - continuou o Conselheiro - "seu espírito, librando-se nas cândidas asas, entoa louvores ao Eterno! E não cessa de pedir ao Onipotente mercês e favores para derramar sobre a cabeça do dileto esposo, que um dia, não duvideis, a encontrará nas regiões celestes, pátria das almas de tão subido quilate..." - E a voz do Conselheiro aflautava-se para indicar aquela ascensão paradisíaca.
- E ontem à noite esteve cá, o Sô Guedes? - insistiu o sujeito de jaquetão com os cotovelos sobre a mesa, fumando como uma chaminé.